Devido ao péssimo atendimento que recebemos em nossa região de residência, e também por saber de experiências de outras pessoas, comecei a insistir com meu marido que queria ter o parto em nossa casa. Ele preocupou-se muito e disse que se quisesse dessa forma teríamos que contratar os serviços de algum profissional. Contra minha vontade ele procurou por doulas ou parteiras na região – aqui na Espanha o governo e sistema de saúde não recomendam partos domicilares, apesar de não ser uma prática proibida é muito mal vista por profissionais e apenas algumas enfermeiras, com especialização em parto e cadastradas, podem fazer o procedimento. São pouquíssimas no país.


Aqui existem as matronas, que são enfermeiras com uma especialização em área ginecológica e obstétrica, elas não são médicas, mas são as profissionais que fazem os exames de rotina nas mulheres e também os partos “normais” hospitalares. Isso significa que as mulheres na Espanha não fazem exames e consultas ginecológicas com médicos especialistas, mas com essas enfermeiras, pelo que entendi só em casos de muita necessidade elas transferem os pacientes para um médico especialista.
Meu marido recebeu a indicação de uma matrona através de uma associação de Madri. Essa matrona dizia que não estava pegando esse trabalho de parto domiciliar há um tempo, mas por ter gostado de nós – devido à conversa que meu marido teve com a associação de Madri – ela resolveu nos atender e marcou uma entrevista na praia para nos conhecermos.
Eu só queria um atendimento para o dia do parto, se possível só a chamaria de última hora, porque queria ficar sozinha com meu marido, mas ela insistiu que era muito importante mantermos uma relação de confiança que implicava em adquirir um pacote de serviços, dos quais nenhum me interessava, principalmente uns encontros grupais, coisa que sempre detestei e acho até um absurdo pagar por um serviço particular que inclui atividades com outras pessoas. Perguntamos se poderíamos pagar por um serviço mais restrito para o dia do parto, ela não aceitou. Então acabamos aceitando comprar o tal pacote, ainda que não fosse participar das atividades, só para poder tê-la em casa no dia do parto, como meu marido queria.
Demos a resposta por telefone e ficamos aguardando orientações. Passou-se uma semana e nada dessa mulher me pedir as informações, como tempo de gestação, os meus dados de acesso para que ela entrasse no sistema médico e pudesse acompanhar meus exames – os quais não tenho acesso porque nunca me dão, fica tudo no sistema. Então mandei uma mensagem perguntando como seria o tal acompanhamento, o que teria que fazer e aí ela resolveu me mandar algumas informações e pedir outras minhas. Nisso passou-se mais uma semana e ela pediu para vir na nossa casa – acabou cancelando o primeiro encontro e remarcando para outro dia. Enfim apareceu dizendo que por questões pessoais não poderia mais fazer meu parto e nos sugeriu mudar de hospital através de uma tática, a qual ela mesma usou em sua última gravidez.
Há um hospital que faz parto humanizado em outra província – de 1 à 1:30 horas de carro, dependendo o trânsito – teríamos que ir ao posto de saúde da cidade dizer que estávamos à turismo e pedir um desplazamiento, dando como referência um endereço de qualquer hotel da região.
Aqui na Espanha só há uns 7 anos atrás começaram a permitir que os cidadãos pudessem receber atendimento médico fora de sua área de residência e comunidade (Estado), ou seja, uma pessoa que vivia em León e estivesse de passagem por Madrid não poderia ser atendida, os hospitais negavam atendimento. Há pouco tempo isso mudou, mas é preciso solicitar esse desplazamiento, que no nosso caso, implica um fingimento, coisa que achei bizarra. Os espanhóis adoram dizer que têm muitos direitos mas sempre tem algum esquema para conseguí-los, a maioria deles nem sabe que é possível fazer isso e pensam que estamos dando um golpe no governo. Mal sabem eles que os impostos que pagamos vão para o governo central, que depois distribui entre os Estados, junto com o dinheiro gordo que vem da União Européia, sem contar que esse país tem um rei que mama nosso dinheiro também.
Esse artigo explica a burocracia para conseguir atendimento entre Estados diferentes da Espanha:
“El Gobierno ha sacado adelante un plan de Ajuste de Sanidad que puede cambiar esta normativa. Aún no se ha aprobado, pero cuando lo haga todos los ciudadanos españoles tendrán los mismos derechos sanitarios en todas las comunidades autónomas.”
https://www.lainformacion.com/practicopedia/como-actuar-si-tienes-que-ir-al-medico-fuera-de-tu-comunidad-autonoma/6508465/
Lembro que no meu caso, troquei de hospital dentro do mesmo Estado (Comunidade Autônoma) e ainda assim tive que insistir tanto no centro de saúde, quanto no próprio hospital para conseguir atendimento.
Fomos uma vez ao centro de saúde para pedir o desplazamiento e uma consulta com a matrona local, pois ela é que nos daria um papel para termos direito de seguir o pré-natal no hospital humanizado – Salnés. O atendente não conseguia falar com a tal matrona por telefone e disse que pediria a ela que nos ligasse, então fomos embora. Quando ela nos ligou não queria marcar a consulta, queria que seguíssemos atendimento aqui na nossa região – A Coruña. Meu marido insistiu muito até que ela aceitou marcar a consulta para o dia seguinte, dizendo que estava nos fazendo um favor.
No outro dia voltamos para a tal consulta, por fim ela nos atendeu bem e até me fez o exame de estreptococos – aquele com o cotonete – para confirmar se tinha mesmo a bactéria ou não. O resultado desse exame foi negativo. Assunto explicado nesse outro texto:
Ela também perguntou se já tinha feito a consulta de anestesia e quando lhe disse que foi por telefone fez uma cara de espanto, dizendo que iria pedir uma presencial. Ali também estavam fazendo uns cursos em grupo de preparação para o parto, que aqui onde residimos foram cancelados por causa da pandemia. Ou seja, tudo que aqui foi cancelado por causa da pandemia lá estava acontecendo normalmente.
Saímos de lá e fomos para o hospital pedir a primeira consulta, a mulher que nos atendeu também tentou nos mandar de volta para A Coruña. Para tentar nos despachar usou o pretexto de que a matrona não havia assinado o papel que levamos com o pedido de atendimento, o que era verdade, então insistimos que estavamos vivendo ali e não sabíamos quanto tempo iríamos ficar por lá, ela foi consultar as colegas, logo voltou marcando a consulta. Os desplazamientos têm validade de 6 meses, mas nos colocou um perído de 30 dias.
A partir de então começamos a fazer o pré-natal no Salnés, que pertence à província de Pontevedra, que também fica na Galícia (Estado/Comunidade Autônoma). A Galícia tem quatro províncias, nós moramos na de La Coruña – é como se no mesmo Estado houvesse quatro capitais.
Cheguei a dizer ao meu marido que não fazia muito sentido o que estávamos fazendo, pois poderia ir apenas no dia do parto, na área de urgência, e me atenderiam. Mas como a tal matrona aconselhou fazer dessa forma e ela mesma disse que fez assim, meu marido, confiando nela, quis fazer exatamente como ela explicou.
O hospital é muito melhor que o Teresa Herrera de A Coruña, que é um hospital especilizado em maternidade e pediatria, mas que é terrível, desde a aparência do edifício, o estacionamento que nunca tem vagas e é extremamente sujo – vive cheio de lixo e máscaras, que deveriam ser consideradas lixo hospitalar, visto que usaram protocolos de radioatividade para tratar a suposta pandemia. O restaurante fica logo na entrada do hospital e a porta da cozinha fica aberta, dá direto ao corredor que passamos para chegar nas salas de atendimento, sem contar que já nos disseram que não é nada limpo. O hospital está sempre lotado de gente e nos fazem esperar um tempão pelo atendimento. Há também um segurança na porta que fica perguntando o que vamos fazer ali dentro, coisa que não há no Salnés.

O Salnés é um hospital que tem um estacionamento muito melhor, mais fácil de estacionar e limpo, está todo reformado, todas as vezes que estivemos lá estava vazio, com poucos pacientes, todos os funcionários que nos atenderam foram simpáticos e estavam com disposição para trabalhar, coisa muito diferente do que acontece na Coruña. No Salnés pedem nossa permissão para tudo, não nos admoestam à nada, podemos fazer perguntas, pedir explicações sobre os procedimentos, as pessoas não têm medo de nós, nunca se quer nos perguntaram se tomamos vacina covid, como fazem aqui na Coruña, e por não estarmos vacinados muitas médicas demonstram claramente que sentem medo de nós.
Acontece que o hospital Salnés, que faz parto humanizado, não atende gestações de risco. Eles podem injetar antibiótico para estreptococos, fazer cesariana de emergência mas não possuem UTI neonatal, o que implica que boa parte das grávidas não podem ser atendidas ali, visto que qualquer coisa pra eles é gravidez de risco. Já o hospital de A Coruña, que possui especialistas e estrutura para qualquer emergência, não faz parto humanizado, além de ter um atendimento terrível. Ainda considero que o atendimento que tive no outro hospital de A Coruña, chamado Ventorrillo, que é de especialidades, foi muito pior. Outra coisa desagradável é que há três hospitais diferentes que tenho que ir para fazer o pré-natal, e a cada consulta me atende uma pessoa diferente. A maior parte das consultas fiz no Ventorrillo mas o parto sempre é feito no Teresa Herrera, e no centro de saúde – tipo posto de saúde do Brasil – faço os exames de sangue e urina, e é onde atende a matrona, que eu e meu marido não queremos mais ver – essa é a única que não muda, é sempre a mesma pessoa.

No Brasil as pessoas vivem reclamando da estrutura dos hospitais, que faltam equipamentos, profissionais, etc. Mas aqui na Europa, onde o dinheiro vale mais de 5 vezes o nosso e tudo custa no mínimo 10 vezes menos, falta profissionais, especialistas e até equipamentos básicos nos hospitais, o que implica deslocamento dos pacientes de um hospital a outro, sem contar a estúpida burocracia que nos faz criar uma estória para sermos atendidos dentro do nosso próprio Estado de residência.
Essa semana tive minha última consulta no Salnés, pois segundo a equipe de lá, agora, na semana 40 de gestação, me tornei uma gestante de risco. O exame de cardiotoco detectou que minha filha tem alguns batimentos extras e isso para eles é um grande problema, pois não possuem UTI neonatal e se a bebê precisar de algum tipo de atendimento mais específico no pós-parto, teriam que me transferir para Pontevedra, que fica à uns 30 minutos dalí, portanto preferem que volte a ser atendida em A Coruña, onde há um hospital especializado e equipado para atender partos de risco.
A médica fez um ultrassom após o exame de cardiotoco para confirmar o resultado, quando já estava me limpando pediu que voltasse a deitar e refez o exame, pois havia colocado o nome de outra paciente. Apesar de dizer que não poderia precisar a real situação do nosso caso, cancelou nosso atendimento sem antes saber o que iriam nos dizer aqui em A Coruña.
No dia seguinte fomos para a consulta aqui em A Coruña, onde me fizeram novamente o exame de cardiotoco e novo ultrassom. Aí começaram as bizarrices.
Primeiro a médica nos disse que pela leitura do aparelho não havia nada anormal mas que escutando o som dos batimentos era possível perceber uma mudança no ritmo cardíaco. No ultrassom ela não encontrou problema no coração da bebê ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar a criança ou o parto, mas achou a criança pequena…
Ela chamou uma colega para pedir uma opinião. A colega chegou e ela disse:
– “Não vou te dizer o peso que encontrei, quero que você veja e me fale quanto você acha que a criança pesa.“
A colega começou a avaliar primeiro o coração e então a primeira médica veio e fez outro comentário:
– “O Salnés a mandou pra cá só por isso, acredita?“
Ou seja, o tal problema no coração que me colocou como gravidez de risco já não era mais um problema nesse outro hospital, mas o peso da bebê sim. Contudo, o peso da bebê não é um impedimento para ter o parto no Salnés, que não realiza parto de risco!
A primeira médica chegou a ligar para outro médico, que é um especialista de coração, este nem quis ir ver o que estava acontecendo, pois pelo que ela disse no telefone já percebeu que não havia nada grave com a criança.
Por fim, depois de muito me apertarem com aquele ultrassom, cada uma encontrou um peso diferente para minha filha, nem sabemos qual é o peso dela, se 2,700 kg ou 2,800 kg. Mas o pior não foi tudo isso, foi quando a primeira médica me disse que deveria já ficar lá no hospital para induzir o parto, pois achou a bebê muito pequena e isso é um grande problema na opinião dela. A colega ficou calada e não deu opinião alguma, mas ao que tudo indica estava de acordo com todo o diagnóstico.
Obviamente, me neguei a induzir o parto, o que não agradou as duas, e pedi para esperar mais uma semana. Então me marcaram um novo exame para a próxima semana, para fazer tudo de novo.
E por tudo isso agora estou no sistema deles como uma gravidez de risco e não faço idéia do que isso irá alterar no meu parto, só sei que eu e meu marido estamos chocados com a incapacidade dessas pessoas, com a loucura, irresponsabilidade e a total despadronização da tal ciência, que agora virou um dogma inquestionável.
Recentemente uma prima nasceu no Brasil com 3,200 kg. A mãe foi em trabalho de parto para o hospital, mas em dado momento lhe disseram que devido a criança ser muito “grande” seria melhor fazer uma cesariana, e foi o que aconteceu.
E aqui por minha filha ser muito “pequena” querem me enfiar um comprimido abortivo na vagina e tirá-la à força, me fazendo ter contrações horríveis, num tipo de parto que pode levar à uma série de procedimentos médicos, pelos quais não pretendo passar, e tudo isso por alguém achar que os seres humanos são feitos em uma fôrma e devem ser todos iguais.
O aparelho de ultrassom se quer é capaz de precisar o peso da criança, que varia conforme o médico que examina. Minha gravidez começou a ser acompanhada com 5 meses, pois me negaram atendimento médico – esse assunto será explicado em outro texto. Portanto, se quer sabem de quanto tempo de gestação estou, ainda que tivesse acompanhado desde o princípio, o aparelho faz uma estimativa, não é exato. Mas quando meu marido explica isso às médicas elas dizem que pelas medidas do crânio é possível saber a idade do feto, como se não houvessem tamanhos diferentes de cabeça entre as pessoas.
A medicina não pode padronizar os ser humanos dessa forma, isso é totalmente anti-científico! E em novo texto, sobre plano de parto, explicarei melhor essa questão e o porquê de eu e meu marido termos decidido não permitir nenhum tipo de protocolo profilático, nem comigo nem com nossa filha, nenhum mesmo!
Vimos que com a tal matrona não podemos contar – isso já tinha percebido desde o começo, mas meu marido precisou passar por tudo isso para perceber.
Essa mulher quando veio em nossa casa disse que apesar de não poder fazer o parto estaria à nossa disposição para tirarmos qualquer dúvida, e que no dia até poderia ligar para saber se as contrações eram mesmo de parto e o momento certo de ir ao hospital. Pois quando meu marido ligou para ela, perguntando como proceder, visto que não estavam querendo nos mandar para o Salnés no centro de saúde, ela nunca respondeu. Essa semana, depois de tudo o que aconteceu, meu marido me fez mandar um áudio para ela, perguntando sobre como será o parto nessa situação – ela segue trabalhando como matrona no serviço público de saúde – até agora também não nos respondeu e penso que nem irá responder. Aqui na Europa é muito difícil contar com as pessoas, elas não são comprometidas com nada.
Só sei que depois dessa experiência já falei ao meu marido que se tiver outra gravidez aqui na Europa não farei pré-natal algum, e ele também não viu nenhuma vantagem, se quer nos ultrassons, disse que nem conseguia disfrutar o momento de tão mal atendidos que fomos, além de ter que ficar o tempo todo com essa focinheira suja e estúpida, que impõem como condição de acesso ao hospital. As imagens também são péssimas, só vemos borrões, e agora ainda vimos que nem o peso da criança o aparelho pode informar.
Talvez se estiver no Brasil posso até fazer algumas consultas, até para comparação, mas aqui nunca mais.
Sobre o parto, meu marido acha que devemos ter no hospital por nunca termos feito isso antes, ele considera uma loucura ter a bebê em casa, mesmo eu achando que no hospital corremos mais risco. Mas como preciso dele calmo no dia para me ajudar resolvi não insistir, o que sabemos é que com máscara não irei parir e nenhum procedimento será feito, pois não iremos permitir.